Os leitores deste blog já perceberam que, nos últimos tempos, o ritmo de produção de textos deu uma boa diminuída. Felizmente (para mim), recebi algumas mensagens indagando o porquê desse (quase) silêncio e - surpresa, surpresa! - pedindo mais textos.
Fico feliz, é claro. Sinal de que tem gente que efetivamente lê o que eu escrevo. E que merece uma explicação sobre a queda da produtividade cabideira.
Fim de ano é um período insano para qualquer professor, e o volume de trabalho (não só acadêmico) dos últimos meses bagunçou minha agenda. Mas seria mentira afirmar que esta foi a única - ou a principal - razão para que este se tornasse - como um leitor chamou numa mensagem que recebi - um "blog lerdo".
O principal motivo da lerdeza blogueira do Cabide é preguiça. Isso mesmo, preguiça.
Não é preguiça de escrever, nem de debater. É preguiça de tentar debater o que quer que seja, numa época em que muita gente parece não distinguir debate de embate. Ou mesmo de combate.
A dialética é sempre deliciosa, mesmo quando infrutífera, mesmo quando o confronto de ideias antagônicas não leva a nenhuma conclusão. A preguiça não vem da contraposição dessas ideias (sem a qual a dialética nem existiria). Mas nos últimos tempos - talvez, de forma mais evidente, neste último ano - a contraposição deu lugar a uma polarização extremada, ideológica e, em última análise, desprovida de conteúdo.
Talvez isso tenha ocorrido por conta do julgamento do Mensalão. Talvez não, e o Mensalão só tenha evidenciado o que já existia. Mas esse julgamento é emblemático e mostra a que ponto a troca de ideias chegou - ou desceu.
Foi um julgamento com muitos erros, não só processuais, como de postura por parte dos ministros. Ainda assim, e com todas as (merecidas) críticas que se possam fazer à decisão final, não deixa de ser positivo reconhecer que, ao contrário do que ocorria na era FHC, o STF firmou posição quanto à sua independência em face do Legislativo e do Executivo federais. Mais do que isso, políticos de relevância nacional se viram frente a uma situação inédita no país: a de arcar com as consequências de suas escolhas. E todo o processo transcorreu sem abalos significativos na estabilidade das instituições públicas.
A rigor, a decisão conseguiu a proeza de não agradar totalmente a ninguém. A ala conservadora da sociedade, embora tenha festejado as condenações, criticou desde o tempo que o processo levou até a brandura das penas. Mais de uma vez ouvi e li expressões da linha "tranca essa corja e joga a chave fora", e coisa muito pior (algumas pessoas não se constrangem em pedir o - literal - linchamento dos "petralhas mensaleiros". Experimentei perguntar a algumas dessas pessoas se elas sabiam o que, exatamente, os tais petralhas tinham feito. As respostas demonstraram uma ignorância inacreditável, sintetizada muitas vezes num patético "roubou"). Em muitas ocasiões tentei argumentar que a prisão dos condenados não traria nenhum bem para a sociedade. Fui imediatamente rotulado de defensor dos corruptos, de "petralha honorário", por assim dizer.
No sentido oposto, quando afirmei que José Dirceu e José Genoíno - dentre outros - não eram presos políticos, e sim políticos presos (como falar em "presos políticos" cujo partido a que estão filiados controla o governo federal há 10 anos?), ou quando observei que "julgamento de exceção" não era uma expressão adequada para o Mensalão (há uma diferença abismal entre o STF e Nuremberg), fui imediatamente classificado como "reaça" e "PIG honorário".
Sim, eu consegui essa proeza: sou reaça, sou PIG e sou petralha. Curiosamente, essas classificações, vindas de direções opostas, se basearam num único e mesmo ponto de vista (o meu).
Paralelamente, os artigos de jornais e revistas, os programas de televisão e da internet, os livros lançados recentemente, enfim, todos os meios possíveis de divulgação de ideias, parecem ter sofrido um achatamento intelectual - não apenas no sentido de se nivelarem por baixo (o que ocorreu), mas também no sentido de ficarem chatos. Críticas do nível de Reinaldo Azevedo ou Lobão são tão intelectualmente rasteiras (e monótonas) quanto a santificação de Dirceu e Genoíno - como se um passado louvável de luta e dignidade conferisse carta branca para a desonestidade no presente. Num artigo recente, li que "Lula fez o que tinha de fazer para tirar milhões da miséria", logo, tudo estaria automaticamente justificado. Como se questões éticas (para não mencionar as legais) pudessem ser solucionadas de forma tão simplória. Recentemente, circulou nas redes sociais um texto acusando Lobão de ter causado o suicídio de seus pais. Lobão merece inúmeras críticas, mas explorar de forma tão baixa uma tragédia pessoal para atacar as ideias de quem quer que seja, por mais equivocadas que sejam, é de uma torpeza indescritível.
Então, diante do excesso de trabalho, da despencada do nível do debate e da aparentemente infindável sede de sangue das duas torcidas organizadas (progressistas x reacionários), comecei a ficar com preguiça de discutir certos assuntos. Numa fórmula simples:
Mas, como toda preguiça, daqui a pouco essa também passa.
Qualquer hora dessas, o blog deixa de ser lerdo e volta ao ritmo de antigamente.
Uma boa pauta seria explicar porque o pensamento do Reinaldo Azevedo é rasteiro. Entendo discordar dele. Imagino até que discordar dele seja cansativo, porque o sujeito escreve muito e discordar honestamente implica replicar. Mas só taxar de rasteiro parece coisa de quem quer se deslocar de alguém pela simples pecha que este alguém recebeu.
ResponderExcluirÉ simples alegar os motivos do Azevedo fazer comentários rasteiros: realmente ele escreve muito, mas apenas no sentido quantitativo. A qualidade dos textos e às conclusões a que ele chega são superficiais. Basta culpar o PT por tudo e fazer campanha como uma viúva chorosa da guerra fria contra o comunismo que já resumimos pelo menos 70% do blog
ResponderExcluirNo mais, deixe a preguiça de lado, professor. A preguiça é a mãe de todos os vícios. Espero poder ler mais textos em breve.
ResponderExcluirSuperficial é dizer que o outro é superficial, que é quantitativo.
ResponderExcluirCriticar dá um trabalhão... é preciso apontar erros teóricos, argumentativos e lógicos.
Ainda espero um texto ou um debate sobre a rasteirice dos direitistas. Todo mundo fala - até a Miriam Leitão - mas ninguém explica.
Se a proposta do texto fosse rebater um Reinaldo Azevedo, um Lobão ou um Rodrigo Constantino, talvez eu me dispusesse a fazer isso com exemplos. Mas eles foram mencionados como tópicos de uma outra ideia. De qualquer modo, basta escolher qualquer texto do Reinaldo Azevedo ou do Lobão para ver quão rasos são os argumentos que eles usam. Não farei isso aqui porque não é a proposta do texto. Mas pode haver algo mais rasteiro do que gente que, em 2013, ainda tem medo do comunismo? Ou afirmar que o NYT é dominado por comunistas desde os anos 30, como faz Olavo de Carvalho? Dá preguiça, sim, de responder a esse tipo de argumento.
ResponderExcluirAinda de rasteira só vejo a crítica. A começar por misturar Lobão com quem quer quer seja. O cara não é um teórico; é um sujeito que tem meios para veicular a posição que assumiu para si. Certo ou errado, coerente ou não, profundo ou rasteiro, é um ato de coragem.
ResponderExcluirEntendo a discordância. Mas a desqualificação não entendo. E isto não é produto de preguiça, mas sim de doses mais ou menos equilibradas de preconceito e de incapacidade.
Gostaria de ver se você tem a capacidade de comentar algum texto do Azevedo, do Constantino, do Carvalho (faltou você mencionar o Pondé; certamente ele está na sua lista de "preguiças").
Acho mesmo que este blog é só um instrumento para impressionar alunos, parentes e amigos. Nem volto mais a ele. Se for para ler coisas assim, "estou com preguiça", paro na Miriam Leitão e está ótimo.
Deu preguiça....