Calendário Maia: "Cadê o retorno?" |
No próximo dia 21 de dezembro, o mundo acabará de novo.
Em
razão de uma interpretação qualquer de um dos calendários maias, alguns
“estudiosos” conseguiram calcular o fim do mundo com precisão. Ele ocorrerá
impreterivelmente na sexta-feira. Não podia pelo menos esperar o feriado?
Para
quem acredita no calendário maia, os sinais – aqueles que sempre prenunciam o
final dos tempos – são inequívocos: Silvio Santos faliu um banco; a cantora
Sandy deu a entender que aprecia práticas sexuais que, digamos, não combinam
com sua imagem pública; o Brasil se tornou credor do FMI. O coronel Telhada,
ex-comandante da Rota, orgulhosamente responsável por 36 mortes, será indicado
pelo PSDB para integrar a Comissão de Direitos Humanos. Sim, o fim está
próximo.
Não
é a primeira vez que o mundo acaba. Pelo visto, ele acaba de vez em quando. Ou
deveria, segundo as profecias.
Na
virada do ano 999 para o ano 1000, boa parte da Europa acreditava que o Juízo
Final aconteceria. Houve penitências, autoflagelações e caridades de última
hora – e nada aconteceu. Quem doou seus bens (muitas vezes para a Igreja) não
pôde pedir devolução.
Em
1910, muita gente achava que a passagem do cometa Halley pela Terra extinguiria
a vida no planeta. Não aconteceu nada. Quando o Halley passou por aqui
novamente, em 1986, já tinha perdido a moral, não assustou ninguém.
Numa
das muitas interpretações das profecias de Nostradamus – cuja linguagem é tão
genérica e simbólica que se poderia encaixar até a vitória do Corinthians em
Tóquio em alguma delas – o mundo acabaria em 1987, em razão de uma guerra
nuclear. Lembro-me bem disso, eu era criança e passei o ano com a respiração
presa (o mundo acabaria como no terrível filme The Day After, e eu morreria carbonizado e virgem) – só respirei
aliviado em 1º de janeiro de 1988.
Na
passagem de 1999 para 2000, o “bug do milênio” destruiria toda a rede mundial
de computadores, haveria um colapso global. Algum bocó conseguiu divulgar o
boato de que na Bíblia constava a frase “A mil chegarás, de dois mil não
passarás” (não estudo a Bíblia, mas alguns estudiosos que conheço me disseram
que a frase não está lá). Não aconteceu nada.
Essa
história de fim do mundo seria divertida se tanta gente não acreditasse nela de
verdade. Em maio deste ano, a BBC publicou um estudo realizado pela Ipsos
Global Public Affairs (instituto de pesquisa sediado em Nova York) em mais de
20 países, que mostrou que quase 15% da população mundial acreditam que o fim
do mundo acontecerá durante suas vidas, e que 10% acreditam que o fim do mundo
acontecerá em 2012. Pelo visto, para essas pessoas, não importa o fato de que
todas – TODAS – as previsões anteriores falharam. É incompreensível. Talvez em
seus íntimos não faça sentido que o mundo continue após suas mortes.
Será
interessante ouvir as explicações dos profetas do apocalipse no dia 22 de
dezembro. Serão, é claro, as mesmas dadas pelos profetas que diziam que o mundo
acabaria nas ocasiões anteriores. As explicações – sempre as mesmas – foram
sintetizadas brilhantemente pelo astrônomo Carl Sagan, no artigo Um sermão de domingo:
“Uma
religião proeminente nos Estados Unidos previu com toda a certeza que o mundo
acabaria em 1914. Ora, 1914 veio e se foi, e – embora os eventos daquele ano
por certo tivessem alguma importância – o mundo, tanto quanto posso perceber,
parece não ter chegado ao fim. Há pelo menos três respostas que uma religião
organizada pode apresentar diante da falha numa profecia tão fundamental. A
primeira seria alegar: ‘Oh, dissemos ‘1914’? Desculpem, queríamos dizer ‘2014’.
Houve um pequeno erro de cálculo. Esperamos que isso não lhes tenha causado
incômodos’. Mas não o fizeram. Poderiam ter dito: ‘Bem, o mundo deveria ter
acabado, mas nós rezamos muito e pedimos a Deus, de modo que Ele poupou a Terra’.
Mas não o fizeram. Em lugar disso, saíram-se com algo muito mais engenhoso.
Anunciaram que o mundo havia
de fato acabado em 1914, e se o resto de
nós não notou é porque não quis ver.”
É
surpreendente que, mesmo diante de um histórico quase interminável de profecias
furadas, uma em cada dez pessoas acredite que o mundo terminará em 2012. A base
científica para essa crença é, evidentemente, nenhuma. Não há um único
cientista sério, ou mesmo algum especialista na cultura maia, que defenda esse
despropósito. A “ciência” que justifica essa patacoada é apenas a internet,
esse poço de “verdades” compradas, vendidas e espalhadas sem o menor critério
ou senso crítico. A única diferença entre este fim do mundo e os anteriores é
que o atual gerou um filme horroroso estrelado pelo John Cusack. Aguardemos
para ver o que dirão os arautos do fim do mundo da vez no próximo dia 22.
Enquanto
isso, se você for um dos que acreditam que o mundo acabará na sexta-feira, minha
sugestão é: não perca tempo! Compre uma Ferrari a prestações (você só pagará a
entrada), confesse à esposa que está apaixonado pela vizinha personal trainer de 23 anos, torre suas
economias, vá a Paris (passagem na primeira classe, é claro), beba aquele vinho
de dez mil reais que você jamais se atreveria a comprar, enfim, viva como se
não houvesse amanhã – porque não vai haver mesmo.
Mas
lembre-se que os maias não existem mais – se você acordar no dia 22 endividado
e falido, com a esposa pedindo divórcio e pensão e o namorado da vizinha
(lutador de MMA) querendo ter uma “conversinha” com você, não haverá a quem
reclamar.
René, se o dia do juízo final acontecer no dia 21/12 quero ser julgado pelo Lewandowski.
ResponderExcluirAbs.
Boa!
ExcluirHélio, a depender do Blogueiro e do Lewandowski, você não perderia o mandato, mesmo condenado a oito séculos de prisão - poderia perder somente por voto secreto e pela maioria do PT - e ele ainda acha que isso é o que tá na Constituição!!!!
ResponderExcluirA Constituição permite duas interpretações possíveis - a do blogueiro foi protetiva dos mensaleiros - em seu íntimo, ele não acha lá tão grave roubar dinheiro público, desde que seja pela causa social!
Para mim, isso é o FIM DO MUNDO!!!
Boas festas a todos, caso sobrevivamos ao Juízo Final (após seu trânsito em julgado, claro!)
Caro anômimo, obrigado por me informar sobre o que se passa no meu íntimo. Sem você, eu jamais saberia.
ResponderExcluirBom natal e feliz 2013 a todos!