O domingo numa imagem. |
Embora o primeiro turno da
eleição para prefeito de São Paulo tenha tido momentos inusitados e
surpreendentes, uma análise fria dos acontecimentos mostra que eles ao menos
são compreensíveis.
O
favoritismo quase incontestável de Serra no início da campanha deu lugar a um
até então inimaginável crescimento de Russomano, que chegou a ultrapassar o tucano.
Em 5 de setembro, o Datafolha indicava que Russomano tinha 35% das intenções de
voto, contra 21% de Serra e 16% de Haddad, percentuais repetidos em 20 de
setembro. O Ibope apontava números similares.
A
percepção inicial dos principais partidos que disputavam a prefeitura – o PSDB
de Serra e o PT de Haddad – era de que a candidatura de Russomano não passava
de fogo de palha, que assim que tivesse início o horário eleitoral ele
começaria a despencar. Não foi o que aconteceu. Até duas semanas atrás,
Russomano só fez crescer, e tudo indicava que o azarão ganharia a corrida pela prefeitura.
De
repente, no curtíssimo espaço de duas semanas, Russomano despencou e Serra
reassumiu a liderança. A última pesquisa, às vésperas da eleição, mostrou um
resultado inédito em São Paulo: os três principais candidatos, Russomano, Serra
e Haddad, estavam tecnicamente empatados nas pesquisas, com 20%, 24% e 23%.
Ontem, ao final da contagem, Russomano ficou de fora do segundo turno da
eleição. Foi como se Serra tivesse saltado de bungee jump ao mesmo tempo em que Russomano pulava numa cama
elástica. Haddad também não escapou da montanha-russa. Um parque temático
eleitoral, em resumo.
Mas
esse resultado, embora inesperado, é compreensível.
Russomano
cresceu nas pesquisas porque seus principais adversários não o levaram a sério.
Mais preocupados um com o outro do que com o azarão, Serra e Haddad gastaram
munição pesada entre si, contando com uma queda natural de Russomano nas
intenções de voto. Só que essa queda não acontecia. Russomano, esperto, não
entrou na briga de Serra e Haddad e aproveitou para correr por fora.
Mas
surgiu um problema: como o sucesso de Russomano atingiu uma dimensão que nem
mesmo ele esperava, faltou preparo para lidar com as cobranças que esse sucesso
trouxe. Quais eram as propostas de Russomano? Quem elaborou seu plano de
governo? Quais suas relações com as igrejas evangélicas?
Faltou
a Russomano a perspicácia para lidar com essas questões. Ele não soube explicar
bem o que queria para São Paulo (embora seu “vamos falar de São Paulo?” tenha
virado um bordão repetido ad nauseam);
questionado sobre quem havia elaborado seu pífio plano de governo, recusou-se a
divulgar os nomes dos autores, “para preservá-los de perseguições”, mostrando uma
falta de transparência antidemocrática e inadequada no calor de uma eleição em
reta final; sua proposta para o transporte coletivo simplesmente matava o
Bilhete Único, embora ele, de modo um tanto confuso, afirmasse o contrário.
Paralelamente
a isso, Serra e Haddad se deram conta de que Russomano não cairia naturalmente
com a rapidez que lhes era necessária, e pararam de atacar um ao outro,
voltando-se para o inimigo comum. A estratégia deu certo. Os dois foram para o
segundo turno e tiraram Russomano do páreo.
Em suma, como ocorre nessas situações, não houve um fator determinante para a virada do jogo, e sim uma série de fatores que, em conjunto, levaram Russomano à lona.
A
cidade ganhou com isso. Serra e Haddad são políticos mais experientes e têm
plataformas muito mais sólidas do que Russomano, cujas fragilidades ficaram
evidentes na reta final. Quem quer que seja o próximo prefeito de São Paulo, a
cidade estará em melhores mãos do que se estivesse sob a tutela de Russomano.
Mas
Russomano também ganhou. Passou de mero azarão a adversário a ser levado em
consideração com cuidado. Fortaleceu-se politicamente. E como é jovem, esse
resultado – expressivo apesar de tudo – lhe servirá de trampolim e lhe dará
fôlego para voos futuros.
O
eleitorado paulistano mostrou, ainda que no último minuto, que sabe que
governar uma cidade do tamanho e da complexidade de São Paulo não é tarefa para
amador nem para aventureiro. O que nos resta, agora, é torcer para que o
eleito, seja Serra ou Haddad, se mostre digno da confiança que nele será
depositada. Agora é cruzar os dedos e torcer.
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