segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Bungee Jump eleitoral

O domingo numa imagem.


  
          Embora o primeiro turno da eleição para prefeito de São Paulo tenha tido momentos inusitados e surpreendentes, uma análise fria dos acontecimentos mostra que eles ao menos são compreensíveis.
            O favoritismo quase incontestável de Serra no início da campanha deu lugar a um até então inimaginável crescimento de Russomano, que chegou a ultrapassar o tucano. Em 5 de setembro, o Datafolha indicava que Russomano tinha 35% das intenções de voto, contra 21% de Serra e 16% de Haddad, percentuais repetidos em 20 de setembro. O Ibope apontava números similares.
            A percepção inicial dos principais partidos que disputavam a prefeitura – o PSDB de Serra e o PT de Haddad – era de que a candidatura de Russomano não passava de fogo de palha, que assim que tivesse início o horário eleitoral ele começaria a despencar. Não foi o que aconteceu. Até duas semanas atrás, Russomano só fez crescer, e tudo indicava que o azarão ganharia a corrida pela prefeitura.
            De repente, no curtíssimo espaço de duas semanas, Russomano despencou e Serra reassumiu a liderança. A última pesquisa, às vésperas da eleição, mostrou um resultado inédito em São Paulo: os três principais candidatos, Russomano, Serra e Haddad, estavam tecnicamente empatados nas pesquisas, com 20%, 24% e 23%. Ontem, ao final da contagem, Russomano ficou de fora do segundo turno da eleição. Foi como se Serra tivesse saltado de bungee jump ao mesmo tempo em que Russomano pulava numa cama elástica. Haddad também não escapou da montanha-russa. Um parque temático eleitoral, em resumo.
            Mas esse resultado, embora inesperado, é compreensível.
            Russomano cresceu nas pesquisas porque seus principais adversários não o levaram a sério. Mais preocupados um com o outro do que com o azarão, Serra e Haddad gastaram munição pesada entre si, contando com uma queda natural de Russomano nas intenções de voto. Só que essa queda não acontecia. Russomano, esperto, não entrou na briga de Serra e Haddad e aproveitou para correr por fora.
            Mas surgiu um problema: como o sucesso de Russomano atingiu uma dimensão que nem mesmo ele esperava, faltou preparo para lidar com as cobranças que esse sucesso trouxe. Quais eram as propostas de Russomano? Quem elaborou seu plano de governo? Quais suas relações com as igrejas evangélicas?
            Faltou a Russomano a perspicácia para lidar com essas questões. Ele não soube explicar bem o que queria para São Paulo (embora seu “vamos falar de São Paulo?” tenha virado um bordão repetido ad nauseam); questionado sobre quem havia elaborado seu pífio plano de governo, recusou-se a divulgar os nomes dos autores, “para preservá-los de perseguições”, mostrando uma falta de transparência antidemocrática e inadequada no calor de uma eleição em reta final; sua proposta para o transporte coletivo simplesmente matava o Bilhete Único, embora ele, de modo um tanto confuso, afirmasse o contrário.
            Paralelamente a isso, Serra e Haddad se deram conta de que Russomano não cairia naturalmente com a rapidez que lhes era necessária, e pararam de atacar um ao outro, voltando-se para o inimigo comum. A estratégia deu certo. Os dois foram para o segundo turno e tiraram Russomano do páreo.
               Em suma, como ocorre nessas situações, não houve um fator determinante para a virada do jogo, e sim uma série de fatores que, em conjunto, levaram Russomano à lona.
            A cidade ganhou com isso. Serra e Haddad são políticos mais experientes e têm plataformas muito mais sólidas do que Russomano, cujas fragilidades ficaram evidentes na reta final. Quem quer que seja o próximo prefeito de São Paulo, a cidade estará em melhores mãos do que se estivesse sob a tutela de Russomano.
            Mas Russomano também ganhou. Passou de mero azarão a adversário a ser levado em consideração com cuidado. Fortaleceu-se politicamente. E como é jovem, esse resultado – expressivo apesar de tudo – lhe servirá de trampolim e lhe dará fôlego para voos futuros.
            O eleitorado paulistano mostrou, ainda que no último minuto, que sabe que governar uma cidade do tamanho e da complexidade de São Paulo não é tarefa para amador nem para aventureiro. O que nos resta, agora, é torcer para que o eleito, seja Serra ou Haddad, se mostre digno da confiança que nele será depositada. Agora é cruzar os dedos e torcer.

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