quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ser de direita é um luxo


Quem precisa do Estado fica à esquerda.

Vamos imaginar, apenas por um momento, que aquelas categorias de "direita" e "esquerda" ainda são adotadas pela classe política brasileira.
         Para não nos perdemos em detalhes, adotemos como premissa geral que ser de direita significa optar pelo neoliberalismo, pelo Estado mínimo, pelo laissez faire, laissez passer, e ser de esquerda significa querer um Estado mais atuante, mais forte, mais presente na solução de problemas sociais da vida privada que levam à manutenção do status quo e à desigualdade social. Não é só isso, evidentemente, mas foquemos nesse aspecto.
Sob essa ótica, temos de reconhecer que a atuação do Estado para reduzir as desigualdades sociais, o desemprego e a pobreza só interessa às vítimas da desigualdade, aos desempregados e aos pobres. Em outras palavras, quem já tem um bom emprego, casa, patrimônio, plano de saúde e educação paga (ou condições para obter tudo isso por conta própria) não precisa do Estado. E se não precisa do Estado para nada, pode, perfeitamente, defender a teoria de que o Estado deve ser mínimo e interferir o menos possível na vida privada da sociedade. Por outro lado, quem não tem nada disso, nem encontra na sociedade condições de alcançar por conta própria esses benefícios, precisa do Estado e – pelo menos em tese – compreende (porque sente na pele) a sua relevância para a superação das desigualdades.
Conclusão: ser de direita é um luxo. É como ter o último iphone, trocar de carro a cada seis meses ou viajar para a Europa três vezes por ano. Ser de direita é para quem pode, não para quem quer.
Daí sucede que, com a evolução da humanidade e a superação das mazelas sociais, no futuro todos seremos de direita. Quando ninguém mais precisar do Estado para obter moradia, saúde, educação, alimentação, emprego etc., quando o Estado retomar seu perfil liberal, não haverá mais ninguém de esquerda, e todos nos regozijaremos entre brindes de Romanée-Conti, lembrando, sem saudade nenhuma, de quando ainda havia gente de esquerda no mundo.
Até que isso ocorra, continuaremos a testemunhar a ascensão do novo direitista, a versão anos 2000 do “novo rico”. Como a socialite que comenta com a amiga que “enfim a empresa do Oswaldinho decolou e saímos daquele apartamento minúsculo, horroroso. Agora estamos bem e finalmente – finalmente! – entramos para a Nova Direita. Um alívio, querida, um alívio!”
Para o novo direitista, é absurdo e ilógico que o Estado dê moradia e saúde de graça (“o Oswaldinho se esforçou tanto, agora o vagabundo quer ganhar isso na moleza?”). Faz sentido. Depois de tanto esforço para alcançar um status que lhe permita o luxo de ser de direita, nada pior do que o pavor de retroceder e ter de “recair na esquerda”, e precisar pensar no que o Estado precisa fazer para reduzir as desigualdades.
No futuro, ser de esquerda será démodé. Será como a gravata de teclas de piano ou a macarena, um anacronismo do qual os neodireitistas caçoarão.  Nenhum anjo torto procurará um poeta para lhe dizer: vai ser gauche na vida. Ser de esquerda será vintage. Será, na melhor das hipóteses, uma extravagância divertida e (principalmente) inofensiva. 
É evidente que no futuro neodireitista os pobres não desaparecerão. Afinal, alguém precisa preparar a mesa, estender as toalhas, lavar os pratos e talheres! Mas serão muito bem remunerados para isso – os neodireitistas mais otimistas preveem índices salariais estratosféricos, na casa dos 5% dos salários dos patrões – e, o que é mais importante, receberão, desde pequenos, a adequada educação da cartilha neodireitista, aprendendo que o mundo é assim mesmo e que cada um tem o seu lugar, sendo todos, é claro, igualmente importantes no desempenho de suas funções sociais.
É certo, também, que um ou outro desavisado pode não enxergar as benesses de um mundo tão evoluído. Mas isso não será problema para o projeto neodireitista. À medida que o Estado se enfraquecer, as forças policiais, destinadas a manter a calma e a ordem, serão fortalecidas. Eventuais tentativas de perturbar a paz social serão reprimidas com o rigor que a situação exigir.
Mas tudo isso pressupõe a superação da pobreza e das desigualdades, que precisará da colaboração do Estado. Expoentes do pensamento neodireitista já estão elaborando um Manifesto Capitalista que demonstrará que a “ditadura da burguesia” é uma consequência inevitável da história, que levará ao encolhimento do Estado e, quem sabe, à sua supressão.
Enquanto o sonho dourado neodireitista não se torna realidade para todos, temos de admitir que apenas um esquizofrênico conseguiria ser de direita sem ter garantidos seus direitos (à saúde, à moradia, ao pleno emprego etc.). Por outro lado, apenas um ingrato alcançaria todas essas benesses e não migraria alegremente para a direita.
Mas vivemos no Brasil e, como já dizia Tim Maia, “o Brasil é o único país onde, além de puta gozar, cafetão ter ciúme e traficante ser viciado, pobre é de direita”. Por outro lado, felizmente, há muita gente ingrata no Brasil: gente que estuda, se prepara, ascende na vida e mesmo assim não se “endireita”. Talvez isso ocorra porque, quanto mais se estuda, se investiga e se reflete, menos o simplismo burro das direitas convence. Quanto mais se pensa, menos razoável parece o raciocínio (também típico do neodireitismo) segundo o qual se EU estou bem, VOCÊ é um problema só seu.
Pois é, talvez hoje em dia ser de direita seja mesmo um luxo. Mas não ser um completo idiota é mais.


31 comentários:

  1. O texto parte de um Princípio equivocado - a de que a riqueza está aí, mas que é só injustamente distribuída. Por isso o esquerdista leva vantagem nesse raciocínio, claro: num sistema onde a riqueza é fixa, a distribuição equânime entre todos é mais justa.

    O problema é que o problema não é de justiça, mas sim de economia. A direita parte do princípio que um ambiente capitalista, sem intromissão excessiva do Estado e com livre concorrência, é o ideal para o crescimento da riqueza. Essa realidade gera desigualdade sim, mas a externalidade positiva é a de que o desempenho dos melhores sucedidos alavanca a sociedade como um todo para cima (grandes negócios, muitos empregos, crescimente econômico etc).

    A experiência mundial mostra que os países mais ricos seguem essa lógica, cada qual com sua peculiaridade. Os que seguiram a lógica da Justiça Social quebraram - justiça, apenas, não gera riqueza - nem o Estado.

    Essa discussão maniqueísta do direitista ser o malzinho da história e o esquerdista o cara legal perde muita relevância sobre essa lógica. O cara legal nem sempre é o que resolve o problema!

    ResponderExcluir
  2. Concordo com o comentário anterior.

    E ainda acrescentaria o seguinte: sei que o texto trata do assunto de forma extremada, como se existissem apenas duas "facções" sociais - a do rico direitista, que não mais depende do Estado; e a do pobre esquerdista, que depende, e muito, do aparato Estatal.

    O grande problema é que existe uma zona cinzenta aí no meio, de quem já tem condições para não depender do Estado em tudo, mas que ainda precisa dele em alguns (muitos, talvez) aspectos de sua vida quotidiana. É uma camada que, sim, sem hipocrisia, desfruta de confortos que o lado pobre não tem, e que até certo ponto, tal qual o lado rico, se vangloria das conquistas que galgou a duras penas; mas que, por outro lado, vive sempre na ponta da lâmina, com o orçamento justo, dando boa parte do fruto do seu trabalho para um Estado ineficiente, do qual, embora muito dependa, pouco recebe.

    Os cidadãos dessa categoria, até por terem um nível de instrução melhor do que os da ala esquerda - e às vezes até melhor do que parte da ala direita - têm opinião própria. É uma classe bem informada, que estuda, investiga, e por isso pode optar pela linha da esquerda, da direita ou das variantes mais tênues dos dois lados, de forma muito concisa e bem fundamentada.

    Enquanto houver gente nesta categoria intermediária, sempre haverá esquerda e direta, ambas com discursos ricos e bem fundamentados.

    ResponderExcluir
  3. Meus caros, imaginei que o primeiro parágrafo tivesse deixado óbvio o tom de brincadeira do texto.
    Claro que eu trato de esquerda e direita no texto de forma extremada (eu diria caricatural), e não ignoro que a realidade é muito mais centro-esquerda ou centro-direita do que o texto sugere.
    E ao contrário do que se afirma no primeiro comentário, o problema é de justiça, sim, e não de economia. Afirmar que "a riqueza está aí, mas que é só injustamente distribuída" é um princípio equivocado? Não me parece, nem um pouco.
    Se a questão fosse puramente econômica, o debate não seria entre esquerda e direita, mas entre marxismo e capitalismo. Aliás, intencionalmente passei ao largo das questões econômicas justamente para não cair nessa armadilha. E não defendi o marxismo em momento algum - ou será que pretender um Estado mais presente exclui o sistema capitalista, indiscutivelmente o menos pior que conseguimos bolar até o momento (e que, sim, gera riqueza, mas também gera muita pobreza)?
    Afirmar que os países que seguiram a lógica da justiça social quebraram é afirmar que o Estado não deve promover a justiça social - um raciocínio perigoso. Desculpem, não consigo concordar.
    Mas retomando, o artigo é uma brincadeira entre extremos, como o Leandro bem observou. Não imaginei que seria provocativo, mas que bom que foi. Todo debate rico de ideias é bem-vindo.
    Mas até hoje ninguém conseguiu me convencer que quem pensa só no próprio umbigo e quer que o resto do mundo se dane (seja de direita ou de esquerda) não é um completo idiota, no mínimo por não enxergar que raciocínios assim levam à construção das muralhas atrás das quais nos escondemos hoje da criminalidade. Se vivemos cada dia mais presos, encastelados e apavorados, é em boa parte por causa dessa mentalidade "cada um que cuide de si". Eu gostaria que fosse de outra forma. E um debate inteligente é sempre um bom ponto de partida para mudar o que está errado, não acham?

    ResponderExcluir
  4. Eu sou de direita e não penso no meu próprio umbigo. Reitero - um Estado mínimo proporciona que as empresas se desenvolvam mais, gerando emprego e renda a todos. O Estado é ineficiente por definição, até porque exerce seu poder com monopólio, sem concorrência. O Estado presente exige orçamentos vultosos, a custa de impostos mais altos - no macro, retira do mercado um dinheiro que poderia ser investido pelo setor privado de modo eficiente para aplicar em políticas sociais sem eficiência alguma. O Brasil é um ótimo exemplo mundial dessa realidade: tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo, mas os serviços públicos são pífios. Temos a Constituição mais pródiga do mundo em Justiça Social e o país mais injusto. Claro, a lei não tem o poder de gerar riqueza - o país é pobre ainda, rural (sim, a maior parte do PIB é sustentada pelo agronegócio) e com uma população ignorante (as pessoas vão na escola hoje, mas continuam analfabetas como dantes).

    Temos o sistema constitucional mais protetivo do mundo em matéria tributária. Em nenhum país do mundo é tão dificil criar impostos como no Brasil, do ponto de vista puramente jurídico. O resultado econômico? Temos, como já dito acima, uma das cargas tributárias mais altas do planeta!

    Não nos iludamos: Justiça Social é muito bom pra vender votos, mas não evolui um país, relegando-o à estagnação social - é PERPETUADOR da pobreza.

    Quer ver isso evoluir? Se o Estado invistir apenas em educação básica e infra estrutura, verá a tal Justiça Social acontecer DE VERDADE daqui uns 20 anos. Qualquer outra fórmula mágica ou de canetada será pura falácia! Mas ao menos a falácia será de alguém "bem intencionado", que não pensa próprio umbigo....

    ResponderExcluir
  5. Meu caro Anônimo, talvez estejamos adotando conceitos distintos de "justiça social". De qualquer modo, um Estado mínimo é o que tivemos quando o Estado surgiu com seu perfil atual (séc. XVI), e o resultado de sua abstenção não foi "emprego e renda para todos" - foi a Revolução Industrial. O Brasil não é um dos países mais injustos do mundo PORQUE tem uma Constituição pródiga em justiça social, e acredito que ele seria muito mais injusto do que já é se não tivéssemos a CF que temos.

    Considero bastante ingênuo supor que a iniciativa privada promoveria mudanças sociais espontaneamente. De qualquer modo, há políticas públicas eficazes e ineficazes. Você tem razão ao afirmar que nossa carga tributária é esmagadora, mas o problema não é este, e sim a falta de retorno do dinheiro arrecadado, que é mal administrado.

    De qualquer modo, com todas as críticas à postura "de esquerda" (quem entende minimamente de economia entenderá as aspas) dos oito anos da era Lula, com todas as críticas aos programas assistenciais, o Brasil evoluiu muito em relação às classes D e E. Não imagino que isso teria acontecido se o Estado deixasse tudo nas mãos da iniciativa privada.

    Ah, e se você leu com atenção meu último comentário, percebeu que eu deixei bem claro que há pessoas tanto de direita quanto de esquerda que só olham para o próprio umbigo. O fato de a maioria esmagadora das pessoas de direita se lixarem para o resto do mundo não significa que não há pessoas de direita que querem o fim da miséria e da desigualdade, como parece ser o seu caso.

    ResponderExcluir
  6. De fato, graças à nossa querida ditadura militar (que se dizia "de direita", mas praticou o maior intervencionismo Estatal da nossa história), confunde-se (no Brasil) a direita com o autoritarismo ou o elitismo monárquico. Em países sérios (como Alemanha, EUA ou Inglaterra), a direita é a defensora do liberalismo (sim, com democracia). Esse preconceito "a maioria esmagadora das pessoas de direita se lixarem para o resto do mundo" é típico tupiniquim. Em outros países, o debate é mais sério e profundo do que isso. Mais honesto também.

    Antes dos oito anos da era Lula tivemos oito anos da era FHC. Antes dela, o país vivia uma inflação corrosiva, nascida nos tempos de JK e amplificada ao final da ditadura. A inflação existiu pelos sempre altos gastos do Estado, que não conseguia fazer frente às suas despesas e emitia dinheiro em demasia para pagar dívidas - logo, perdia o valor.

    Em 1993 FHC assumiu o Ministério da Fazenda com um plano muito simples: corte de gastos, austeridade fiscal, diminuição do tamanho do Estado, privatização de tudo o que foi possível. Muitos investimentos do Estado tiveram que ser cortados, porque agora só podia se gastar o que tinha - por isso, o Plano Real deu certo, mas vivemos anos de penúria até que o Estado pudesse ser reestruturado. Nenhum governo na história teve essa coragem - porque, no final das contas, o aperto no cinto gerou uma impopularidade que os tucanos padecem até os dias de hoje.

    Lula pegou a casa em ordem (sem mudar uma vírgula do plano de austeridade fiscal), com as portas abertas ao crescimento da economia e uma situação externa favorável, especialmente para os BRICs. O dinheiro começou a sobrar inclusive para os bolsas família que você conhece...

    Mas o PT tem essa ideologia do Estado resolve tudo (a não ser na educação - dá um Prouni para os analfabetos estudarem em faculdades - privadas - de analfabetos - viram doutores engraxates e ainda acha que fizeram bonito) - aumento excessivo de despesas correntes, cargos públicos, as privatizações diminuem o ritmo ou, quando ocorrem, são fracassadas (v. estradas e, mais recentemente, aeroportos). Não fosse a tal privataria tucana, talvez você nem tivesse esse blog - o acesso a internet seria pela cia. telefônica estatal, vendido a peso de ouro, como eram as linhas telefônicas de antes.

    O que eu quero dizer é que, naquele momento histórico, em 1994, o PT dizia que iria acabar com o Plano Real - e ia mesmo. A Argentina, naquele momento, passou por governos populistas e irresponsáveis. O Brasil do PT naquela época seria atualmente uma Argentina de hoje, ou pior, porque ao menos a educação argentina é muito superior à nossa.

    Tem pessoas que foram execradas na história do Brasil por serem liberais, de direita (atuais comedores de criancinhas), exatamente pelo maniqueísmo gerado pela ditadura militar. Um dos que eu mais admiro é o Roberto Campos (sim, fez parte do início do Regime Militar, quando ainda acreditava naquele "sistema"). Ele tem uma passagem muito lúcida, que resume tudo o que defendo aqui:

    " - O princípio axiológico do capitalismo é que o homem é dono de seu corpo e do produto de suas faculdades e só pode ser privado do produto dessas faculdades por consenso, contrato, ou pela aceitação de tributos sujeitos ao crivo da representação democrática. Já o socialismo parte do princípio de que o homem é proprietário de seu corpo, mas não é proprietário do uso de suas faculdades. Esse produto pode — e deve — ser redistribuído segundo determinados critérios ideológicos e políticos para alcançar algo definido como justiça social… O resultado é que não se otimiza o esforço produtivo. Toda a tragédia do socialismo é, no fundo, a sub-otimização do esforço produtivo". (trecho retirado do livro "Conversas com Economistas Brasileiros").

    E conclui:

    "O mundo não será salvo pelos caridosos, mas, pelos eficientes".

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  8. Em suma, em países mais sérios, a chamada "nova direita" (faço minhas as palavras do Angeli: se é nova, não pode ser direita; se é direita, não pode ser nova) se preocupa com o bem-estar social? Realmente, preciso rever meus estudos sobre a Europa...

    Não tenho dúvida de que a era Lula não existiria sem a era FHC, até porque, antes de assumir a presidência, FHC era - horror dos horrores! - de esquerda. Nunca vi essa impopularidade que você atribui aos tucanos - aliás, não sei onde você mora, mas em Sampa, principalmente na zona sul, "FHC rules". O fato de Lula ter dado continuidade à política de FHC é mérito dele. Não sei se isso está claro - quem me conhece sabe disso - mas não sou petista nem lulista. Simplesmente busco o melhor (ou o menos pior) do momento político e histórico.

    Falemos um pouco de educação e do Prouni. Sou professor numa universidade privada, cujas turmas têm em média 50% (pelo menos) de alunos bolsistas do Prouni. Hoje foi meu último dia de aula antes das provas. Conheci alunos simplesmente FANTÁSTICOS, vindos da periferia, com uma tremenda experiência de vida e uma dedicação absurda aos estudos. Desculpe-me a rudeza, mas antes de falar dos "analfabetos" e das "universidades - privadas - de analfabetos", sugiro que você vivencie a experiência de lecionar numa universidade privada (você, é claro, formou-se numa pública). Tenho certeza de que você terá uma grata surpresa e mudará sua opinião, que é preconceituosa (literalmente, no sentido do pré-conceito).

    Quanto à privataria tucana, acho melhor não comentar... não daria espaço aqui para desenvolvermos esse assunto (podemos até desenvolvê-lo em outra seara, quem sabe num seminário na universidade?), mas vale observar o quanto a internet evoluiu nos últimos dez anos, migrando dos computadores para os celulares - como eu afirmei antes, o "esquerdismo" do Lula é beeem relativo e não implica qualquer negação ao capitalismo, não lhe parece?

    Você está coberto de razão ao apontar os erros do PT no passado - o PT, inclusive, foi contra o Plano Real e sempre se posicionou contrariamente à reeleição (comprada por FHC num esquema muito similar ao mensalão, é bom não esquecer). Mas comparar o Brasil à Argentina, assim como tentar imaginar como seria o Brasil se Lula tivesse ganhado a eleição em 89, são exercícios fúteis de futurologia e especulações que só têm sentido na Bolsa. Estou com Caetano Veloso - para o bem ou para o mal, o Brasil precisava da experiência do PT no governo federal.

    Quanto aos mártires do liberalismo, se a memória não me falha, quem comia criancinhas eram os comunistas - e quem era mesmo que fazia tais acusações?

    Agora, sua citação ao Roberto Campos é curiosíssima. Você voltou a um ponto que eu, desde o início dessa conversa, procurei evitar - a dicotomia entre capitalismo e socialismo. Convenhamos, qualquer semianalfabeto sabe que o socialismo falhou como sistema. Repito o que já escrevi antes - o capitalismo é o MENOS PIOR, o que não significa que ele não seja ruim e, principalmente, que não esteja isento de críticas. Mas não é possível torná-lo mais humano do que é hoje? Tem sentido um país em que o Eike Batista é o oitavo homem mais rico do mundo, enquanto o vizinho dele morre de fome?

    Eike Batista é muito eficiente, mas pouco caridoso. Claro, muita gente quer o mundo que Eike espelha (muita gente quer SER Eike, por sinal). Talvez, involuntariamente, você tenha chegado ao cerne da questão. Talvez ser de direita ou de esquerda signifique querer um mundo como o atual, com Eikes ao lado de miseráveis, ou querer mudar o mundo.

    Ah, ainda sobre sua mensagem anterior: legal investir na educação para mudar o mundo daqui a 20 anos, o problema é que as pessoas precisam comer todos os dias, incluindo hoje, amanhã e depois de amanhã. Como dizia Ediel, "pobre tem duas manias chatas: fazer aniversário todo ano e comer todo dia."

    ResponderExcluir
  9. Claro que os Eikes, os Ermírios e demais heróis não estão nem um pouco PREOCUPADOS com a Justiça Social - eles se preocupam, sim, em ter mais lucros. Dê uma googleada no termo "externalidade (positivia e negativa)" e entenderá o meu enfoque.

    Há os que se preocupam com a tal Justiça Social (não devem nem dormir à noite, acredito) e há os que, na sua atividade egoística do lucro a qualquer custo, criam empresas, geram inúmeros empregos e inúmeros contratos com fornecedores e clientes, gerando uma teia de desenvolvimento econômico - e se o mercado for saudável, serão cada vez mais eficientes, pois senão a concorrência o engulirá.

    A totalidade da grana de um país tá nessa magicazinha que eu escrevi acima - não há exceção. A atividade do Estado não gera (nem tem como gerar) riqueza - o máximo que o Estado faz é tirar dos cidadãos por meio de impostos e devolver à sociedade, seja por meio de serviços públicos, seja diretamente (como o Bolsa Família).

    Mas como o Estado é ineficiente por definição (em qualquer país do mundo - no Brasil é pior), se ele tira, digamos, um bilhão da sociedade em impostos, devolverá uns 200 milhões - o resto irá pelo ralo da ineficiência (quem trabalha no setor público sabe muito bem do que eu estou falando - e olhe, só falo em ineficiência, nem toquei no assunto corrupção)

    A Vale do Rio Doce e a Embraer são exemplos que ilustram muito bem essa realidade: de empresas gigantes que viviam no vermelho, no ano SEGUINTE ao da privatização passaram a dar lucros, crescer e prosperar, gerando as tais externalidades positivas referidas acima, do ponto de vista macro.

    Ah, mas a Petrobras dá lucro!!! Pois é... privatizada, daria umas dez vezes mais, seguramente - Vide a famosa frase de Rockefeller: “o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada; o segundo melhor é uma empresa de petróleo mal administrada". Nas mãos do Estado, lhe asseguro, com conhecimento de causa, que a Petrobras é MUITO mal administrada.

    O termos "comedores de criancinha" eram pejorações aos comunistas, eu apenas ironizei que essa situação se inverteu no Brasil graças à ditadura militar - o de direita hoje é que as devora.

    No começo do século XIX, o PIB do Brasil era superior ao dos EUA - hoje os EUA são o que são e nunca consideraram a tal justiça social - consideraram o respeito às liberdades individuais e a meritocracia e hoje estão onde estão (maior cliente do mundo), com todos os problemas que ainda enfrentam.

    Já o Brasil... que tem um mercado consumidor em potencial inimaginável, bem favorecido em recursos minerais e naturais, seguiu a lógica de sua colonização católica, que condena lucros e gosta de uma demagogia, perdeu o bonde da história e ainda patina na ideologia estatizante que se preocupa muito mais em dar esmolas agora, eternizando a pobreza, do que em resolver seus problemas estruturais para que num futuro todas as pessoas tenham o que eu chamo de uma igualdade que só o capitalismo liberal pode proporcionar: a igualdade de OPORTUNIDADES.

    Ah, mas e o pobre de hoje? Se houver dinheiro para isso, dê o bolsa família, pois! A esmola só serve como paliativo, mas não sou contra não - sou contra a macroeconomia do país estar fundada em esmolas. O resto do dinheiro deve ir maciçamente para a educação - um mercado aquecide exige mão de obra qualificada, que falta hoje no Brasil - e sim, já trabalhei com inúmeros egressos de faculdades engana-trouxa, muitos sim, analfabetos. Que bom que sua faculdade mostra outra realidade (mas ela poderia ser bem melhor se seus alunos não fossem pessoas abnegadas - tivessem tido acesso a um ensino básico de melhor qualidade, renderiam muito mais).

    Entre a Madre Teresa de Calcutá e o Eike, pode ter certeza que, no MACRO, este atingiu um número muito maior de pessoas em matéria de geração e distribuição de riquezas (mesmo SEM QUERER)... mas os powerpoints de auto ajuda só conterão imagens da freira...

    Mesmo assim, você (e toda a torcida do corinthians, aqui no Brasil pelo menos) preferem a lógica da Madre...

    ResponderExcluir
  10. Heróis?

    Você continua a focar na economia, mas repito - defender a justiça social não implica necessariamente negar o capitalismo. Apesar disso, como todo mundo está cansado de saber, o discurso da "igualdade de oportunidades" não funciona para quem, desde o primeiro dia de vida, não teve oportunidade alguma. Daí a necessidade, mesmo dentro do modelo capitalista, de não adotar o "laissez-faire", de haver um Estado capaz de calibrar as desigualdades que o sistema gera - sem que, para isso, seja necessário negar o sistema.

    Claro que o foco precisa ser a educação, disso ninguém discorda. Mas imaginemos que, daqui a 20 anos, a educação pública atingiu o patamar de excelência que permitiria a tal "igualdade de oportunidades". Sem moradia, alimentação e estrutura familiar, a parcela mais miserável da população vai fazer o que com essa escola?

    Quanto às privatizações, nunca fui contra o processo em si, e sim contra a forma pela qual foi executada pelo PSDB. Privatizar pode ou não ser a solução, mas dar de presente a preço de banana para um grupo de empresários, como fez o PSDB, certamente não seria aceito em nenhum país com uma população mais envolvida no processo político (o que só ocorre por meio da educação) - nem mesmo nos EUA, cujo sistema você admira.

    Aliás, a comparação entre EUA e Brasil não é tão simples, e suponho que você saiba disso. Não é essa dicotomia "catolicismo x protestantismo", nem a ausência de políticas sociais, que levou os EUA à riqueza financeira de hoje - embora esses fatores também tenham sua relevância. Os EUA lucraram imensamente com as duas guerras mundiais, coisa que o Brasil não poderia ter feito. No final do ano passado (ou no começo deste ano, não me lembro bem) um sujeito assaltou outro nos EUA, roubou UM DÓLAR e se entregou à polícia a seguir, porque estava doente e precisava de um tratamento de saúde - isso ocorreu antes da aprovação do plano de saúde do Obama, por sinal acolhido pela Suprema Corte. Além disso, não considero uma cultura que cultua armas, guerras e o encarceramento em grau máximo, mas se choca quando a Janet Jackson mostra um mamilo no intervalo do Superbowl, gerando quase uma crise nacional, exemplo de nada. No Brasil a miséria gera violência, nos EUA é o tédio. Não sei o que é pior.

    Ah, e também já tive estagiários semi-analfabetos vindos de universidades privadas - dentre elas, o Mackenzie. O aluno fraco e desinteressado está em todas as universidades, da melhor à pior.

    E sim, prefiro mesmo a lógica da Madre Tereza à do Eike Batista. Entre valorizar o ser humano (principalmente os miseráveis que, ao contrário do que você afirma, não têm oportunidades porque Eike e outros "heróis" promoveram o crescimento do mercado) e valorizar o dinheiro, continuo com a primeira opção.

    ResponderExcluir
  11. Pois é.. com o Eike, milhares, senão milhões de familias terão emprego e dignidade humana... com a Madre Tereza..........???? Terão pobres que vão votar em demagogos!

    ResponderExcluir
  12. Faço um desafio: aponte as formas que um Estado com regime de esquerda gera riquezas que não as advindas do setor privado. Sim, para sustentar esse estado de Justiça Social, não basta boa vontade, mas temos que indicar a fonte dos recursos.

    ResponderExcluir
  13. Quanto à primeira afirmação: Eike gera empregos e riqueza, e um Estado Social, usando a receita obtida com os respectivos tributos, adota programas sociais para minimizar a desigualdade que o sistema que permitiu a Eike enriquecer gera, especialmente em relação à parcela mais miserável da população que não terá as condições necessárias para se valer dos empregos e da riqueza que Eike gera. Não vejo qualquer incompatibilidade entre uma coisa e outra.

    Quanto à segunda afirmação: como você mesmo afirmou antes, não é função do Estado gerar riqueza. Um Estado que busca justiça social não tem por objetivo inviabilizar a livre iniciativa, antes dela precisa justamente para ter a receita necessária para a promoção de programas sociais. É o socialismo que propugna a apropriação estatal dos bens de produção, e não um Estado capitalista que atue para minimizar as mazelas do capitalismo, sem impedir o lucro e a geração de empregos - que é o modelo desenhado em nossa Constituição.

    A fonte de recursos de um Estado que busque justiça social é, e sempre foi, a tributação da atividade privada. É o destino dessa receita que está em discussão. Que Eike se torne o homem mais rico das galáxias, desde que os tributos oriundos de sua atividade sejam empregados para combater os aspectos negativos do sistema que o enriqueceu. Não é uma ideia tão complicada.

    ResponderExcluir
  14. Quanto mais o Eike enriquece, maior serão os recursos obtidos pelo Estado - ainda bem que consegui convencê-lo do meu raciocínio (sofremos do mesmo problema, nas ciências humanas fomos educados por professores de esquerda formados na ditadura - desde pequeno escuto que o lucro é pecado e os empresários são seres do mal - não fundo, são eles que sustentam TUDO).

    ResponderExcluir
  15. Finalizando, um texto bem apropriado do Pondé (Folha de 24/09/12):

    Texto integral: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/67929-contra-os-comissarios-da-ignorancia.shtml

    Faço questão de transcrever o último parágrafo:

    "Conservador não é gente que quer que pobre se ferre, é gente que acha que pobre só para de se ferrar quando vive numa sociedade de mercado que gera emprego. Não existe partido "liberal-conservative" no Brasil, só esquerda fanática e corruptos de esquerda e de direita."

    ResponderExcluir
  16. Na verdade você não conseguiu me convencer do seu raciocínio. Como eu afirmei desde o início, a questão não é - ou, pelo menos para mim nunca foi - inviabilizar o enriquecimento do empresariado que tem competência, talento e tino para enriquecer. Como eu (assim como também, imagino, você) nasci numa época em que o "sonho socialista" e as teorias de Marx e Engels já tinham se provado desastrosos na prática - embora na teoria fossem melhores do que a lógica capitalista, porque mais humanistas (e aí reside a ironia histórica: o sistema em teoria mais cruel mostrou-se na prática menos totalizante do que aquele que seria, em tese, mais igualitário) - sempre foi muito fácil para mim entender (e criticar bastante) a lógica socialista. Repito - pela enésima vez - que nunca fui contrário ao capitalismo. Nunca critiquei o lucro, que acho fundamental para o progresso de um país capitalista (e o Brasil o é). Você não me convenceu disso porque nesse ponto, desde o início, estamos de acordo.

    E repito - também pela enésima vez - que o foco da dicotomia "direita x esquerda" que abordei na postagem (apenas um dentre inúmeros possíveis) está na compreensão do papel do Estado na redução ("desaparecimento" é uma utopia) das desigualdades sociais e na concessão de oportunidades a quem o sistema capitalista não dá nenhuma - não falo da "classe média baixa" que, no sonho capitalista do "self-made man" (viável - talvez - nos EUA, mas, ao menos por ora, absolutamente excepcional no Brasil - e, óbvio, precisamos trabalhar com a regra e não com as exceções), supera suas desvantagens com "determinação, afinco e eficiência" (a cartilha liberal). Falo do cortador de cana, do favelado, do analfabeto, das pessoas a quem as "oportunidades" dadas pelos Eikes da vida não são acessíveis.

    Sob a ótica que abordei o tema, o capitalismo é inevitável; esquerda e direita discordam apenas no que concerne à aplicação dos recursos públicos gerados a partir da riqueza oriunda da área privada. Nisso, acredito, nem eu te convenci de nada, nem você me convenceu de coisa nenhuma. E não há problema algum nisso.

    Quanto ao Pondé, houve época em que seu conservadorismo era (comicamente) interessante pela atipicidade. Mas há um bom tempo eu o acho, simplesmente, um chato sem talento - talvez porque haja cada vez mais Pondés, Mainardis, Coutinhos, Magnolis e afins tentando "ad nauseam" imitar Paulo Francis, sem um pingo do talento ou da genialidade deste. Talvez o único dessa turma que tenha alguma graça (involuntária), por ser tão inteligente quanto louco, é o Olavo de Carvalho, cujo radicalismo extremo o coloca na categoria do humor involuntário.

    Para finalizar em relação ao Pondé, apenas observo que ele faz menção à esquerda fanática (que de fato existe e não raro enche o saco) mas não faz qualquer referência à - igualmente pentelha - direita fanática (da qual o Olavo de Carvalho é o expoente brasileiro mais emblemático da atualidade). Corruptos sim, de direita e de esquerda. Mas fanáticos, só os da esquerda. E duvido que isso seja acidental. Pondé não enxerga a direita fanática simplesmente porque faz parte dela.

    A ideia inicial de discutir "esquerda x direita" neste blog previa três postagens. Graças a esse nosso debate, serão quatro - não em sequência, para que os leitores do blog não me atribuam a impiedade que imputo aos direitistas.

    Quem sabe num futuro próximo os professores de esquerda formados na ditadura não sejam substituídos por professores de direita formados na democracia? Afinal, essa história toda não começou com a afirmação (era uma piada, pelamordedeus!) de que no futuro todos seremos de direita?

    ResponderExcluir
  17. "E repito - também pela enésima vez - que o foco da dicotomia "direita x esquerda" que abordei na postagem (apenas um dentre inúmeros possíveis) está na compreensão do papel do Estado na redução ("desaparecimento" é uma utopia) das desigualdades sociais e na concessão de oportunidades a quem o sistema capitalista não dá nenhuma. Não é só isso, evidentemente, mas foquemos nesse aspecto."

    O foco da minha discussão é exatamente esse: como já demonstrei, é SÓ o Sistema Capitalista liberal dá oportunidades para superação das desigualdades sociais - exemplos históricos: EUA, Alemanha, Inglaterra, Japão, Coreia do Sul. A esquerda idealiza essa justiça social num delírio que vem desde Rousseau - Estado que tira dos ricos para dar aos pobres (no grau que você quiser) é mais bonito e romântico. Mas são esses ricos que sustentam tudo - e o Estado gasta mal, porque é ineficiente por definição (o Brasil é pior ainda, com a estabilidade no serviço público, a cordialidade exacerbada - v. Sergio B. de Holanda).

    Os ricos gastam de modo eficiente (senão a concorrência te pega). A diferença entre o Brasil e os EUA é que lá há milhares de Eikes empreendedores (e todos ganham com isso). Aqui há um só, e já vem aquela carga de crítica (o cara é empresário, do mal etc etc etc)

    Tem algo no mínimo inusitado, bem típico da esquerda: no começo, você diz que quem é de direita só pensa no próprio umbigo. Depois fala: já falei pela enésima vez que não foi bem esse "de direita" que eu falei, foi em outro contexto filosófico existencial blá blá blá blá!

    E é bem por isso: a esquerda vive de blábláblás, desde Rousseau!

    Encare os fatos! Não precisa gostar nem de Olavos de Carvalho nem de Marilenas Chauí... estude um pouquinho de economia ou tente abrir uma empresa aqui no Bananão para entender o que eu estou falando!




    ResponderExcluir
  18. Veja só essa: http://veja.abril.com.br/noticia/economia/brasil-e-um-dos-piores-paises-para-empreender

    Nossa Constituição, por outro lado, é a mais pródiga do mundo em deveres sociais do Estado (te mostro os dados comparativos, se quiser).

    Sua luta pela justiça social é vitoriosa - já temos ela na prática. Mas não se implementa, porque o país ainda é pobre e inibe o crescimento econômico (a maior parte do nosso PIB ainda é agrária!)

    Já sei sua resposta: ah, a Veja é uma revista reacionária, manipuladora etc etc etc - Ah, convenhamos! O Mino Carta diz que aqui é um lugar bacana de se empreender?

    ResponderExcluir
  19. Capitalismo e capitalismo liberal não são sinônimos. Não sei em que parte das suas mensagens você “demonstrou” que SÓ o capitalismo liberal dá oportunidades para a superação de desigualdades sociais. Como não localizei essa demonstração, passo aos seus “exemplos históricos”:

    1. Os EUA são, de fato, um belo exemplo de capitalismo, mas nem sempre tão liberal quanto você pretende ou supõe. Um aspecto interessante desse liberalismo norte-americano é a absoluta ausência do poder público na regulação bancária, o que permitiu a farra que, em 2008, levou à quebradeira geral do país. Aliás, é curioso notar que em 2008, exatamente como ocorreu em 1929, à quebradeira seguiu-se o apelo ao Estado para ajudar as instituições privadas e “salvar o país”. Quer dizer, a mentalidade liberal vai até o momento em que se autodinamita, quando então corre para os braços de John Maynard Keynes e grita para o Estado “intervenha, intervenha!” Sempre no interesse do povo, é claro. Liberalismo de ocasião e bastante oportunista, que aceita a intervenção estatal quando o calo aperta.

    2. Quanto à Alemanha, só posso deduzir que você a inseriu na lista porque é um dos poucos países europeus que ainda não quebraram. Chute mal dado, lamento informar. Primeiro, porque a Constituição de Weimar, de 1919, ao lado da Constituição mexicana de 1917, foram os dois primeiros documentos constitucionais a garantir historicamente direitos sociais. Ainda que as intenções da Constituição de Weimar não tenham saído do papel, os valores nela contidos impregnaram a cultura alemã. No final dos anos 50, o então ministro da economia, Ludwing Erhard, passou a implementar o modelo do que veio a ser conhecido como “economia social de mercado”, num processo que só vem crescendo. Hoje, a Alemanha aplica 26,7% de seu PIB em gastos sociais públicos e é considerada exemplo de Estado social. Se nada disso te convencer, sugiro que consulte a atual Constituição alemã (Lei Fundamental da República Federativa da Alemanha), art. 20, inciso I: “A República Federal da Alemanha é um Estado federal, democrático e social”. Com base nesse dispositivo o Tribunal Constitucional Federal alemão construiu toda uma jurisprudência de garantia e aplicabilidade de direitos sociais, dando origem inclusive à teoria do “mínimo existencial” adotada em diversos países, dentre os quais o Brasil. Isso, sem que a Constituição alemã tenha elencado expressamente um único direito fundamental social.

    3. Quanto à Inglaterra, se você conhece um pouco de direitos humanos/fundamentais, deve saber que uma de suas principais características é a historicidade. Ou seja, os direitos fundamentais geralmente surgem em resposta a uma agressão prévia a tais direitos. Caso não conheça essa teoria, sugiro a leitura de Norberto Bobbio (“A era dos direitos”). Daí decorre que foi justamente a Revolução Industrial – ocorrida principalmente na Inglaterra – que levou ao surgimento dos direitos fundamentais de segunda dimensão, ou direitos sociais. A Inglaterra é, portanto, o berço dos direitos que você afirma que ela nega. Não fosse isso o bastante, lembremos que o Bill of Rights, de 1689, é o resultado da Revolução Gloriosa de 1688.

    4. Quanto ao Japão e à Coréia do Sul, prefiro não me manifestar, porque, ao contrário dos exemplos históricos anteriores, só sei sobre eles o que leio nos jornais, e não quero fazer aqui um tratado. Até porque não tenho o hábito de me estender sobre temas que desconheço.

    Não demonizo o Eike ou os Eikes – sim, no Brasil há MUITOS empreendedores competentes, embora não alcancem o status de Eike – apenas não os idolatro nem enxergo neles a salvação da lavoura.

    ResponderExcluir
  20. Quanto ao “inusitado” do meu raciocínio, sugiro que você releia essa nossa conversa desde o início: eu afirmei e REAFIRMO que, via de regra, quem é de direita só pensa no próprio umbigo. A única ressalva que fiz nesse tocante foi que, na postagem, fiz uma brincadeira com formas extremadas de direita e esquerda, e que sei que existem pessoas de direita que não se encaixam nesse padrão – embora a maioria absoluta se encaixe – e pessoas de esquerda que se encaixam. Aliás, embora você tenha afirmado de início que “eu sou de direita e não penso no meu próprio umbigo”, admito que não encontrei em seus argumentos nada que o diferencie da direita-padrão. A não ser que você esteja contabilizando a torcida para que os pobres enriqueçam, somada à fé de que a iniciativa privada fará isso espontaneamente. Mas de boas intenções assim o inferno está cheio. Não vi nada de inusitado – e, a bem da verdade, nem mesmo de esquerdista – no raciocínio que desenvolvi. Critiquei a direita extremada, sim. Não voltei atrás em momento algum – se o fiz, por favor me mostre onde. De qualquer modo, para ficar beeeem claro: “foi bem esse ‘de direita’ que falei, nesse mesmo contexto filosófico-existencial”. O “corte epistemológico” da minha valoração – se você preferir chamar assim – está expresso desde a minha primeira resposta às suas manifestações.

    O que é de fato inusitado no pensamento da direita – e nessa eu te incluo, meu caro – é a habilidade de ignorar os aspectos para os quais a teoria não fornece resposta. Já apontei que a Revolução Industrial, expressão máxima do liberalismo, levou à exploração brutal dos trabalhadores (mulheres e crianças inclusive – procure investigar o fato que deu origem ao Dia da Mulher), e repeti o argumento aqui – sem comentário ou contestação. Por duas vezes, indaguei de que forma o sistema capitalista geraria oportunidades não para os pobres, mas para os absolutamente miseráveis – e também fiquei sem resposta. Não poderia ser de outro modo. O liberalismo NÃO TEM resposta para essas questões. Construir uma teoria ignorando os fatos que nela não se encaixam (e tanto a direita quanto a esquerda extremadas fazem isso) – ISSO é o que eu chamo de blablabá.

    Por incrível que isso possa lhe parecer, prefiro Olavo de Carvalho a Marilena Chauí – ele é mais divertido. Mas eu já estudei “um pouquinho” de economia e já abri uma empresa no Bananão (conheço bem o massacre tributário a que estão submetidos os empresários iniciantes no Brasil) – logo, além de ter estudado um pouquinho, também vivi empiricamente a realidade sobre a qual discorro.

    Ah, e não se preocupe em me apresentar dados comparativos entre os deveres sociais previstos na nossa Constituição e nas de outros Estados – sou professor de pós-graduação de direito constitucional há alguns anos, e estou fazendo doutorado na área. Esse assunto eu já estudei mais do que “um pouquinho”.

    Tudo bem se você não gosta de Rousseau (eu também não gostava na escola, tive de estudar mais a fundo para compreendê-lo melhor), mas se você quiser criticá-lo, sugiro que se apóie em algo mais consistente do que o Pondé e a VEJA (sim, um tabloidezinho reacionário). Busque ler um conservador com um pouco mais de estofo, como Edmund Burke (a grande influência do Pondé, por sinal) – e não esqueça de desprezar as muitas inconsistências da sua teoria. Aliás, ele malha bastante Rousseau, você vai adorar.

    Para finalizar (ufa!): não sei que planeta é este em que a Alemanha e a Inglaterra não são Estados sociais, mas deduzo que é o mesmo planeta em que o Brasil – reconhecido como a 7ª maior economia do mundo em 2011 – é um país pobre. O Brasil é riquíssimo. O problema é a injusta distribuição da renda – uma das mais injustas do planeta. E até agora não vi a iniciativa privada fazer nada para minorar o abismo entre os extremos de pobreza e riqueza no Brasil.

    Talvez o problema seja este. Talvez vivamos em planetas diferentes.

    ResponderExcluir
  21. Só mais um comentário sobre a VEJA e a Carta Capital: VEJA é o tabloide conservador de direita, e a Carta Capital é o tabloide extremista de esquerda. Mas nunca vi ninguém invocar CC ou Mino Carta para contestar o pensamento de um clássico da política...

    ResponderExcluir
  22. Desde o início de seu texto, percebi que você manja bastante de direito, constituição etc. Eu coloquei a discussão no foco mais econômico de propósito, porque - este também é um problema do Brasil - as pessoas superespecializadas em suas respectivas áreas, em geral de humanas - ficam em seu microcosmo, nessa ilusão de que todos os problemas serão resolvidos no seio de suas áreas. No fundo, isso só gera distorções. Cito como exemplo esse papo do Brasil ser a 7ª economia do mundo. Nada mais é do que uma daquelas festas ufanistas que só fabrica ilusões - veja a nossa posição em renda per capita e veja que a nossa situação ainda é muito precária - tem melhorado, é verdade, mas não por métodos artificiais de distribuição de renda, mas sim pelo crescimento econômico.

    Você faz comparações com as condições de trabalho da Revolução Industrial - então posso comparar com os massacres em nome da Justiça Social (Stalin, Mao, Fidel - pessoas bem intencionadas que certamente estão no inferno)? Sim, não acho que é por aí e nem, em momento algum, defendi que o direito deixe de existir - é bem o contrário - o direito deve ser forte e não uma mera tábua poluída de boas intenções.

    Aliás, é boa a comparação de Rousseau com outros pensadores que entendo mais realistas, como Adam Smith (defende um Estado forte para garantia de infra-estrutura e cumprimento dos contratos), John Jocke e Thomas Hobbes (este, verdadeiro contraponto aos delírios Roussonianos). O Pondé escreve muita besteira, mas ele faz um bom comparativo nesse texto que te enviei. O próprio Keynes diz o óbvio: o capitalismo é sujeito a crises - se nem para socorrer a macroeconomia o Estado não servir, para que servirá então? Não disse que o capitalismo é uma maravilha, é bem o contrário: mas até hoje não inventaram nada que não tenha base natural, adequado à realidade antropológica dos seres humanos. Ferreira Gullar pontua muito bem, no alto de sua simplicidade:

    "A visão de que só um lado produz riqueza e o outro só explora é radical, sectária, primária. A partir dessa miopia, tudo o mais deu errado para o campo socialista. Mas é um equívoco concluir que a derrocada do socialismo seja a prova de que o capitalismo é inteiramente bom. O capitalismo é a expressão do egoísmo, da voracidade humana, da ganância. O ser humano é isso, com raras exceções (olha o Hobbes aí).

    O capitalismo é forte porque é instintivo. O socialismo foi um sonho maravilhoso, uma realidade inventada que tinha como objetivo criar uma sociedade melhor. O capitalismo não é uma teoria. Ele nasceu da necessidade real da sociedade e dos instintos do ser humano. Por isso ele é invencível.

    A força que torna o capitalismo invencível vem dessa origem natural indiscutível. Agora mesmo, enquanto falamos, há milhões de pessoas inventando maneiras novas de ganhar dinheiro. É óbvio que um governo central com seis burocratas dirigindo um país não vai ter a capacidade de ditar rumos a esses milhões de pessoas. Não tem cabimento."

    Na Alemanha, em que pese eles tenham um modelo relativamente pesado de Constituição (ainda assim, menor que a nossa), o progresso do país nunca foi fundado na Justiça Social, e sim na capacidade e liberdade do povo para empreender.

    ResponderExcluir
  23. Superspecialização em Direito Constitucional só funciona em pós-graduação. Com uma Constituição tão ampla e um STF que vem decidindo até quando a vida começa e definindo conceito de raça, estudar Constitucional decentemente hoje implica estudar vários campos do conhecimento - economia inclusive, já que a CF/88 traz inúmeras normas sobre o tema a partir do art. 170.

    Entre Hobbes, Locke e Rousseau há uma estrutura comum (estado de natureza - pacto social - estado civil) em que se verifica um gradativo aumento da importância da democracia. O Leviatã de Hobbes implica um Estado MUITO mais forte (e menos democrático) do que o de Rousseau, justamente o que você tem criticado. Parece-me que você inverteu as teorias.

    O que o capitalismo tem de mais natural é justamente o "cada um que cuide de si". Mas o que torna o ser humano diferente dos animais é justamente superar certas "naturalidades". O preconceito (racismo, homofobia e todas as inclinações à rejeição do outro, do diferente) é antes um sentimento que se tenta racionalizar do que propriamente um pensamento - logo, é "natural". Não devemos combater o preconceito porque ele é nos é "natural"? Mas, independentemente do que pensam Pondé e Gullar (em entrevista à VEJA, claro), não considero nenhum dos dois grande coisa como pensadores e REPITO que não estou criticando o capitaliszzzz...

    Finalmente, a Alemanha: Social-democracia, Schröder, fundação do Partido Social-Democrata (1875) e seu impacto no modelo de sociedade... dê uma olhada.

    ResponderExcluir
  24. Pois é.. você tocou no ponto... conflitos - o direito surgiu de e para isso - combate ao racismo, por exemplo. Abusos em relação aos empregados. Penas cruéis. Cumprimento dos contratos. Garantia da propriedade e respectivas limitações. Dar a cada um o que é seu. Etc etc etc

    Constituição - surgida em reação ao absolutismo - limitação de poder dos Monarcas, fundamentalmente. Garantias fundamentais. Organização do Estado. Fundamentalmente: DAR ESTABILIDADE AO SISTEMA DEMOCRÁTICO E ÀS INSTITUCIÇÕES.

    Quando veio esse negócio de Constituição dirigente (o Estado tem que dar casa, comida e roupa lavada), aí a coisa começou a andar mal. Não é papel do direito dizer como aplicar recursos de modo mais otimizado. Não cabe ao direito dizer que o Estado vai reduzir desigualdades (isso é óbvio), fornecer medicamentos, dizer o que o salário mínimo pode comprar (muito menos dizer que o principio da dignidade da pessoa humana serve pro Estado custear toda e qualquer espécie de pretensão).

    Os recursos são escassos - e a ciência que estuda isso é a Economia (ciência igualmente polêmica, com várias correntes - mas as discussões sobre esses assuntos é muito mais profunda naquela seara). O direito diz o que é justo - a Economia diz o que é possível e, a administração, como será eficiente.

    Já parou pra pensar por que a cada governo que muda, há trocentas reformas constitucionais (óbvio, não há estabilidade alguma)? Por que temos Repercussão Geral (é a prova de que algumas normais são "mais constitucionais" do que outras)? Por que temos uma carga tributária altíssima, mesmo com as amarras constitucionais ao sistema (as mais duras do mundo)?

    Veja, enquanto você ataca os pensadores, eu mostro os ARGUMENTOS dos pensadores.

    Não tenho pretensão de mudar sua forma de pensar, apenas aponto as falhas de argumentação - você pode sustentar os mesmos pontos de vista, mas de modo mais sólido. Se ficar só no juridiquêz, vai capengar...

    Proposta: http://direitogv.fgv.br/mestrado-profissional

    Veja o que o idealizador do curso diz a esse respeito:

    "POR QUE A DIREITO GV CRIOU O PRIMEIRO MESTRADO PROFISSIONAL EM DIREITO NO BRASIL?

    O Mestrado Profissional já existe para outras ciências sociais aplicadas. Foi ficando claro para a DIREITO GV que o processo de desenvolvimento do país necessitava de advogados qualificados, cuja preparação somente podia ser obtida através de um programa de pós-graduação stricto sensu voltado especificamente para profissionais do Direito. Nesse mesma linha, percebeu-se que o Brasil estava carente de uma reflexão mais aprofundada sobre o
    novo papel do Direito, sobretudo na perspectiva aplicada.
    Em outras palavras, o contexto socioeconômico demandava um projeto de formação de profissionais capazes de enfrentar os desafios jurídico-institucionais decorrentes do protagonismo que o país passou a exercer no cenário mundial. Precisamos de arquitetos institucionais, que tenham condições de fazer uma leitura estratégica do Direito." http://direitogv.fgv.br/sites/default/files/Nova%20pasta/mestrado_pro_entrevista.pdf

    Ou realmente transformamos (sim, como elite favorecida, temos essa obrigação) o Brasil num país de Primeiro Mundo, ou ficamos nessa de ficar entupindo a Constituição de direitos sociais a cargo do Estado.

    Ainda há tempo para pegar o bonde da história!



    ResponderExcluir
  25. EU ataco os pensadores? Onde? Não achei em minhas palavras nenhum ataque a qualquer deles, nem, por sinal, as falhas na minha argumentação que você apontou. Aliás, "delírios rousseaunianos" foi uma expressão usada por você, não por mim.

    Esse debate, que começou interessante, foi se desvirtuando. Simplesmente não falamos a mesma língua. Você fala de uma Alemanha que eu desconheço, de um Hobbes que eu desconheço, de um Rousseau que eu desconheço (e já li MUITO esses autores, não só sobre eles mas as obras dos próprios). Aliás, no mundo em que eu vivo Hobbes jamais poderia fazer um contraponto a Rousseau, já que o "Leviatã" foi escrito 211 anos antes do "Contrato Social"...

    Embora tenhamos concepções distintas de mundo e principalmente de Estado, você não me convence não apenas porque partimos de PREMISSAS diferentes, mas principalmente porque eu não encontro nos meus estudos e na realidade que me cerca os "fatos" que você aponta.

    Sua interpretação sobre a Alemanha, a Inglaterra, as obras de ciência política e o próprio direito (o direito não estuda a escassez de recursos? Análise econômica do direito, Escola de Chicago etc., já ouviu falar?), para não dizer de todo o (imenso) resto que já discutimos, quando confrontadas com os dados que eu trago, sempre levam a uma resposta meio Chicó: "não sei, só sei que foi assim..."

    Sua teoria sobre a obrigação que nós, a elite favorecida (nós quem, cara-pálida? Tô fora!) temos de transformar o Brasil desconsidera os últimos 10 anos de Brasil e os últimos 3.500 anos de mundo, para dizer o mínimo. É uma visão paternalista e (novamente) preconceituosa. Quem não é da elite assistirá a essa miraculosa transformação do Brasil do lado de fora, esperando que nosso brilhantismo nos leve ao nirvana econômico? Então os negros, os pobres, os analfabetos não são sujeitos da história, mas massa de manobra para "nós as elite" debatermos o que é melhor? Não entro nesse barco de modo algum.

    Esse seu último argumento demonstra o quão vazio nosso debate se tornou. Vamos seguir em frente, há muito a ser dito e escrito - inclusive sobre economia e sobre "direita x esquerda", em posts futuros, que tenho certeza que despertarão seu interesse. Por ora, estamos parecendo um cachorro correndo atrás do próprio rabo.

    ResponderExcluir
  26. Calma, amigo... se você tem um blog que permite comentários, tem que aprender a ler coisas que não quer - senão, faça como o Reinaldo Azevedo ou o Zé Dirceu, que só publicam as mensagens "simpatiquinhas"... (você pensa que eu não incomodo o Reinaldo também?)

    Só coloquei visões de mundo que hoje estão bem fora de um clichê que é fruto de um preconceito quase infantil (sim, falar que quem é de direita só se importa com o umbigo é PRECONCEITO SIM, SUPERFICIAL, como falar que quem é de esquerda come criancinhas). Depois você quis dar uma de intelectual (quase carteirando, eu sou isso, sou aquilo, dou aula disso, conheço autor X, Y, e Z - fica pior a emenda que o soneto) porque se sentiu incomodado com as minhas provocações.

    Voltarei a incomodar em outros temas, entenda como uma ameaça construtiva. Mas faça o Mestrado da GV, o caráter interdisciplinar do curso vai enriquecer seus argumentos (se não mudar de ideia em muitos pontos) - não é culpa sua, é característica do ensino de direito no Brasil essa alienação, como bem disse o grande Mario Engler (vai falar mal dele também, como falou do Pondé e do Ferreira Gullar?) no trecho que citei acima.

    ResponderExcluir
  27. Ah, é sério mesmo que você acha que é o direito a ciência que estuda o fenômeno da escassez de recursos? Hummm... então tá! rs

    A discussão desvirtuou? Veja sua frase:

    "Para não nos perdemos em detalhes, adotemos como premissa geral que ser de direita significa optar pelo neoliberalismo, pelo Estado mínimo, pelo laissez faire, laissez passer, e ser de esquerda significa querer um Estado mais atuante, mais forte, mais presente na solução de problemas sociais da vida privada que levam à manutenção do status quo e à desigualdade social. Não é só isso, evidentemente, mas foquemos nesse aspecto."

    Eu to focando nisso: essa premissa é ERRADA. Do ponto de vista econômico (e não de DIREITO econômico, que não tem nada a ver com isso), esse Estado mais atuante leva, NA PRÁTICA, a um desenvolvimento econômico mais pífio. E um desenvolvimento econômico mais forte tem a externalidade positiva (estuda esse conceito, pega no google) de alavancar a sociedade como um todo para cima. Vai ter desigualdade sim, mas o cara que tá na base da pirâmide vai ganhar muito mais do que seu similar no Estado pesado e paternalista.

    O liberalismo econômico de verdade, aquele que temos nos EUA, leva à maior inclusão social e à igualdade de oportunidades. Até agora não inventaram nada melhor. A Alemanha pode ter a constituição que for etc etc, mas lá quase tudo é privatizado, o Estado não é pesado, a carga tributária não é alta etc. Aí, pelo meio econômico, eles atingem o Estado de bem estar social que tá na Constituição deles (eles poderiam ter uma constituição igual à dos EUA que daria na mesma, na prática)

    Ah, mas e o direito dos negros? Aí sim, isso acho que tá meio fora do tema... De qualquer forma, nos EUA um negro vira presidente... aqui ele não passa da porta da cozinha. Mas por que isso? NÃO SEI, SÓ SEI QUE FOI ASSIM!

    ResponderExcluir
  28. Meu caro, o espaço aqui é democrático - leia o texto que inaugura o blog. Espero sinceramente jamais precisar "moderar" ou excluir o comentário de quem quer que seja, o que só farei se houver agressões gratuitas e surtos psicóticos. Argumentando educadamente, pode-se afirmar aqui que a Terra é quadrada, o Brasil é uma monarquia e o Maluf é honesto - posso até não concordar, mas não excluo o argumento de ninguém.

    Sinta-se SEMPRE à vontade para comentar, contestar e argumentar por aqui - mesmo que eu não concorde com seu raciocínio, não o encararei como incômodo ou ameaça. O espaço foi criado para isso mesmo, para debater as ideias. A casa é minha, a casa é sua, a casa é nossa.

    ResponderExcluir
  29. Fica tranquilo, inclusive eu jamais agrediria alguém chamando-o de TFP apenas por ser favorável ao liberalismo econômico - eu, por exemplo, apoio o liberalismo econômico, sou ateu (contrário, inclusive, ao ensino catequizante na infância), a favor de aborto, a favor da descriminalização total das drogas (são temas polêmicos interessantes para debater, inclusive), algo que deixaria qualquer Opus ou TFP de cabelo em pé!

    ResponderExcluir
  30. Olha para onde nos leva esse Estado que promete casa, comida e roupa lavada: http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2012/12/03/brasil-nao-tem-estrutura-nem-ambicao-para-ser-rico-diz-economista-indiano.jhtm

    ResponderExcluir
  31. O René foi o que se saiu melhor nesse debate. Parabéns. Quem não quiser viver sob Estado algum pode ir morar numa ilha perdida do Pacífico pois em todos países desenvolvidos existe Estado

    ResponderExcluir