Ted: um ursinho contra os valores da família brasileira? |
O deputado federal Protógenes
Queiroz parece sentir falta dos tempos em que, delegado federal, ignorava leis
e violava direitos a fim de se tornar o grande inquisidor dos bandidos de
colarinho branco do país. Parece também sentir saudade dos tempos em que o
poder público era mais forte e podia dizer à sociedade o que ver e o que não
ver no cinema.
No
final de semana passado, nosso mais novo censor resolveu levar o filho de 11
anos para assistir à comédia Ted, de
Seth MacFarlene – um filme classificado para maiores de 16 anos. Papai
Protógenes deve ter pensado que, embora seu filho tenha bem menos do que 16
anos, assistir ao filme ao lado do grande paladino da justiça brasileira
impediria que o menino se deixasse influenciar por valores contrários à moral e
aos bons costumes.
Protógenes
saiu do cinema horrorizado, e afirmou na terça-feira (25 de setembro) que
pediria aos Ministérios da Justiça e da Cultura que suspendessem a exibição do
filme. Por quê? Porque segundo o deputado, o filme “passa a mensagem de que quem consome drogas, não trabalha e não estuda
é feliz”. A reação à infeliz declaração do neocensor foi tamanha, e o
ridículo de suas afirmações tão óbvio, que ele já voltou atrás. O surto autoritário, aliás, turbinou a bilheteria do filme, o que não deve ter deixado o deputado muito feliz.
O
curioso é que Protógenes afirmou que tinha lido as críticas e resenhas do filme,
portanto, sabia do que se tratava. Mas é preciso ter mestrado e doutorado em
idiotice para achar que um adolescente de 16 anos ou mais vai começar a se
drogar – ou a fazer qualquer outra coisa
– porque viu um urso de pelúcia fazendo isso no cinema.
Aliás,
Protógenes, pelo jeito, não vai ao cinema há um bom tempo. Sorte nossa. Se
fosse, era capaz de pedir para fechar todos as salas de cinema do Brasil. Vamos
seguir o raciocínio do neocensor: Os
Mercenários 2 passa a mensagem de que quem vive de matar os outros é feliz;
E aí... comeu? passa a mensagem de
que quem cai na farra é feliz; On the
road – na estrada passa a mensagem de que quem sai por aí viajando, se
drogando e transando com quem topar pela frente é feliz. E por aí vai. Censura
a todos, então. Tiremos todos de cartaz.
Mas
por que se limitar ao cinema? Avenida
Brasil passa a mensagem de que quem é polígamo é feliz; desenhos como Pica-pau e papa-léguas passam a mensagem de que quem engana os outros é feliz;
o livro Cinquenta tons de cinza passa
a mensagem de que quem se submete a uma relação sadomasoquista é feliz.
Censura, censura a tudo isso, em nome da família brasileira!
O deputado Protógenes Queiroz: #chatiado |
Embora
as bobagens do neocensor não tenham chance de sucesso, a mentalidade que elas
evidenciam encontra eco em muitos aspectos da atual realidade brasileira. A
censura tem nos cercado de forma cada vez mais ostensiva.
Provavelmente
somos o único país civilizado em que não se pode escrever a biografia
não-autorizada de quem quer que seja. Ou seja, biografia, no Brasil, só se for
chapa-branca, supervisionada e aprovada pelo biografado ou por seus parentes.
Prateleiras e prateleiras contando a vida de heróis, pois que personagem ou
parente dará autorização para um biógrafo narrar aquela prisão por pedofilia ou
aquele escândalo de corrupção? “Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”. O poema em linha reta de Fernando Pessoa já prenunciava o atual
mercado de biografias no Brasil.
O
diretor financeiro do Google no Brasil, Edmundo Luiz Pinto Balthazar, foi preso
por crimes de desobediência, por não excluir textos do Google e vídeos do
Youtube ofensivos a alguns candidatos na atual eleição Brasil afora. Aparentemente escapa à
percepção dos juízes que deram essas ordens de prisão que os vídeos podem ser
colocados e recolocados no Youtube por particulares, sendo impossível que o
diretor financeiro, ou mesmo um grupo grande de funcionários, consiga detectar
todos os vídeos que indivíduos postam. Claro que nem os juízes, nem os
candidatos ofendidos cogitaram tentar encontrar quem de fato postou os vídeos,
tarefa bem mais trabalhosa.
No
começo do ano, o Itamaraty e o Palácio do Planalto vetaram a entrada de membros
da equipe do CQC em suas dependências.
Em
2007, a exposição Heróis, com
fotografias de Luiz Garrido, foi proibida na Câmara dos Deputados, em Brasília,
por conter fotos da transformista Rogéria.
Em
agosto de 2011, o horroroso filme sérvio A
Serbian Film teve sua exibição proibida em todo o Brasil.
Em
25 de setembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo anunciou que proibiu a
exibição no Youtube do trailler do filme A
inocência dos muçulmanos (uma das maiores idiotices da história – não digo
do cinema, porque é tão ruim que sequer merece essa classificação – , que
deveria ter sido solenemente ignorada pelo mundo, e provavelmente seria, não
fossem os protestos dos muçulmanos contra o filme) sob pena de multa diária.
Os
exemplos são inúmeros, e surgem novos a cada dia. Nem a coitada da Tia Nastácia, do Sítio do Picapau Amarelo, escapou. E como já visto
por aqui, até um samba-enredo que critica a desocupação do Pinheirinho, como o "Covardia Nacional", pode dar cadeia.
É
claro que a liberdade de expressão não é absoluta e precisa de limites. Mas no
Brasil atual os limites vêm se sobrepondo à própria liberdade de tal maneira
que, daqui a pouco, até os contos de fada e as canções de ninar vão encontrar
um Protógenes que queira proibi-los.
Isso é porque você não viu as novas versões de "atirei o pau no gato" e "boi da cara preta" adaptadas ao politicamente (e hipocritamente) corretos... ridículo.
ResponderExcluirVersões "protogenadas"? Mande para mim por e-mail, fiquei curioso...
ExcluirEu achei uma porcaria esse filme, pra uma criança não recomendo, muitase palavras de baixo calão, acabei não vendo todo filme, por tràs percebi que através da imagem de um urso querem chamar atenção aí homossexualismo, coisas que querem que sejam reconhecidas, como tbm as drogas,o mundo tá distorcendo os valores de família e muito mais,
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