"Olá, René! Podemos ser amigos?" |
Mark Zuckerberg, acabo de descobrir, quer muito ser meu amigo.
Primeiro, por meio do feicebúqui, ele resolveu me contar quais foram os meus momentos mais importantes de 2012. Achei curioso. Afinal, nem o conheço, mas ele parece saber mais sobre mim do que eu mesmo. De qualquer modo, acabei não clicando no link por meio do qual eu ficaria sabendo o que foi mais importante para mim neste ano que se encerra. Talvez eu devesse ter deixado que Zuckerberg me mostrasse um pouquinho de mim mesmo - no mínimo, economizaria algumas seções de terapia.
Eu já havia quase me esquecido dessa estranha tentativa de aproximação quando um dia, ao abrir o feicebúqui, deparo-me com a seguinte frase: "o que está acontecendo, René?"
Ora, quer dizer então que Zucky - já que ele quer tanto cavar essa intimidade, permito-me dar-lhe um apelido carinhoso, coisa de "brothers" - não apenas conhece meu 2012 melhor do que eu, como também demonstra um interesse afetuoso pelo que está acontecendo comigo e, mais do que isso, ainda me chama pelo primeiro nome (lance manjado de marketing, Zucky, confesso que não fez com que eu me sentisse mais importante, sorry)!
Então, velho amigo Zucky, acontecer, acontecer, não está acontecendo nada de muito emocionante ou interessante no exato momento. Lamento decepcioná-lo.
Mas, inspirado por sua preocupação tanto pelo que aconteceu comigo em 2012 como pelo que está acontecendo (isso é que é amigo!), resolvi te contar, caro Zucky, o que me pareceu relevante no ano que finda. Poderemos então comparar nossas notas sobre o assunto e ver se batem, olha que divertido!
Não vou tratar diretamente da minha vida, é claro - este blog é um espaço de ideias, e minha vida é besta como a de qualquer mortal. Não conheci a Angelina Jolie, não salvei crianças de nenhum incêndio, não descobri a cura do câncer. Então só vou tratar de fatos pessoais na medida em que influenciaram minhas ideias e meu modo de ver o mundo. E nesse aspecto, caro Zucky, 2012 foi um ano agitado!
Para mim, 2012 começou na verdade em dezembro de 2011, quando eu entrei no feicebúqui (podemos ser "brothers", Zucky, mas, embora eu use bastante sua empresa, ainda não fiquei íntimo dela a ponto de chamá-la de "face"). Foi por conta das aulas e dos alunos - afinal, eu precisava de um meio mais ágil para me comunicar com eles do que o velho e-mail. Depois de perder a conta de quantas vezes eu ouvi "você tem 'fêice', professor?", resolvi superar meu antigo preconceito com redes sociais e conhecer melhor sua empresa.
Grata surpresa, Zucky! Ao contrário do que eu imaginava, o feicebúqui não servia só para as pessoas informarem ao mundo que estavam prestes a escovar os dentes ou reencontrar aquela turma da 4ª série. Tinha e tem muito disso, é claro - além de incontáveis convites para participar de jogos, coisa que nunca entendi nem aceitei (o que não impede que os convites continuem a chegar). Mas conheci muita gente que usa o feicebúqui para divulgar informação de qualidade, propiciar debates sérios e espalhar conhecimento relevante. Surpreendentemente, o feicebúqui ainda propiciou o reencontro com amigos muito queridos cujo contato se perdera há anos, e o encontro de novos amigos, pessoas que até hoje não conheço pessoalmente, mas por quem desenvolvi verdadeiro afeto (sorry, Zucky, por ora você não é um deles...) e com quem tive debates riquíssimos. Cito quatro dentre muitos: Cecília Olliveira, Maria Luiza Quaresma Tonelli, Marcelo Semer e Suzana Pimenta Catta Preta. A vocês (e aos muitos cujo nome não mencionei), meu muito obrigado pela riqueza da troca de ideias, que, espero, continuará em 2013 e nos anos vindouros (se Deus quiser, não só virtualmente, porque no quesito "relacionamentos humanos" sou old school, prefiro o contato pessoal e direto).
Bem, superado o preconceito com as redes sociais, resolvi tentar vencer meu preconceito com blogs - que, para mim, assim como orkuts e feicebúquis, só serviam para que as pessoas mostrassem ao mundo como seus cotidianos lhes pareciam interessantes (com a exceção de uns poucos blogs "sérios"). Também nesse terreno descobri todo um mundo de informações, pessoas e ideias muito interessantes - mais uma vez a riqueza do pensamento me alcançou por meios virtuais e inusitados. E, suprema ousadia, em agosto iniciei eu mesmo um blog, por insistência de alguns alunos com quem tive debates instigantes que eram interrompidos pelo fim das aulas. Segundo meus cálculos, talvez em um ano eu atingisse a marca de mil acessos. Hoje o blog completa quatro meses de existência, e beira os 14 mil acessos - e resultou, agora no final do ano, numa parceria com o jornal jurídico Carta Forense, praticamente um presente de natal para o jornalista frustrado que existe dentro de mim. Quem diria, Zucky?
Fora da internet, meu 2012 começou com desafios inesperados: recebi convites para lecionar em cursos que não eram da área jurídica - Direito para turmas de Ciências Contábeis, Cidadania e Questões Contemporâneas para turmas de Comunicação Social.
Mundos diferentes do meu, Zucky - conheci gente interessante, gente diferente, gente exótica, gente esquisita, gente divertida, gente doida (algumas pessoas normais também). Fiz grandes amizades, interessantíssimas. Vivi momentos insólitos, passei por situações absurdas e divertidas. Aprendi muito com tudo e com todos.
O mundo ao meu redor também pareceu mudar em 2012. O partido que sempre considerei de centro-esquerda consolidou sua triste caminhada para a direita, iniciada há uns dois anos. A pobreza diminuiu um pouco no Brasil, mas o conservadorismo aumentou assustadoramente. Vi o prefeito da minha cidade aderir a uma mentalidade semifascista e nossa Suprema Corte decidir que, para prender bandidos, vale tudo, inclusive ignorar a lei e a própria Constituição (para quem estuda a Constituição há alguns anos, não foi fácil). Revi muitos conceitos sobre política, ética e justiça. Perdi muitas certezas, ganhei muitas dúvidas. Fiquei um pouco mais velho, e nem um pouco mais sábio. Contrariando a lógica do tempo, tornei-me um pouco mais radical, não mais moderado. A culpa não foi minha, a realidade à minha volta não me deu outra opção.
Haveria muito mais a mencionar, mas o essencial é isso. No campo pessoal, 2012 também foi agitado, mas não a ponto de despertar o interesse de ninguém além de mim mesmo. Sintetizo tudo afirmando que, em todas as áreas da vida, 2012 foi um ano fantástico e rico, pelo qual sou muito grato. E que 2013 se desdobre para tentar superá-lo. Fico na torcida!
É como eu vejo meu 2012, caro Zucky. Bateu com o que você pretendia me mostrar?
E para quem leu, comentou, criticou, elogiou, enfim, gastou um pouquinho do seu tempo com minhas palavras, meu encarecido e sincero OBRIGADO! E um feliz 2013 para todos e cada um de nós!